domingo, 26 de agosto de 2012

Surtando com Mrs. Dalloway #1

Os personagens que Virginia Woolf imagina e cria são reflexões de sua própria busca por si mesma, é através de sua escrita que ela se entende, que se liberta. A escrita para ela é uma terapia, e é através dela que mantém o senso de proporção, a diferença entre real e imaginário, sanidade e insanidade, vida e morte. “É escrevendo que consigo minhas proporções”, Virginia escreveu em seu diário, demonstrando que escrever é seu jeito de derrotar a loucura, que ela descreve através de Bradshaw como “não ter um senso de proporção”.


Virginia desconstrói  gênero em seus personagens, há uma certa androginia no pensamento deles.  Como ela disse em A Room of One’s Own:  
“É fatal ser um homem ou mulher puro e simples; deve-se ser uma mulher masculinamente ou um homem femininamente [...] Uma colaboração deve acontecer entre a mente da mulher e do homem para que a arte da criação possa acontecer. Um casamento de opostos tem que acontecer.”
E é exatamente isso que ela faz com Septimus e Clarissa, eles nunca se conheceram, mas são unidos através de pequenos  acontecimentos como a música da vendedora de flores, o avião escrevendo no céu e o som do Big Bem. Vemos esses acontecimentos sob as visões de cada personagem, e dessa forma ocorre uma união da consciência deles.

A história toda se passa num dia de Junho de 1923 e não há capítulos, mas podemos fazer essa divisão de acordo com o personagem que está tendo seu dia descrito. Vemos a preparação de Clarissa para a festa e o tormento de Septimus até seu suicídio. O leitor segue, entende e interpreta a mente dos personagens.

O romance é uma maneira de repensar a vida, de experimentar, de explorar o que você mostra para as pessoas e o que realmente é. É sobre laços que unem pessoas que se conhecem, e pessoas que não se conhecem, no caso Clarissa e Septimus. A consciência única deles é o que mais me fascina nesse livro, ele é o insano, ela a sã, mas mesmo assim parecem ter os mesmos medos, a mesma vulnerabilidade. Ela vai da consciência de um para outro, unindo-os, mas ao mesmo tempo deixando os separados. O máximo de interação entre os dois é durante a festa   quando  Clarissa recebe a notícia de que Septimus havia se matado.

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