quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Surtando com Mrs. Dalloway #2: Septimus x Clarissa


Como já foi dito, algo une as consciências de Septimus Warren Smith e Clarissa Dalloway, algumas dessas coisas estão listadas e explicadas abaixo:

“Não mais temas o calor do sol.” – sobrevivência x morte

Os dois são assombrados por esse trecho de Cymbeline de Shakespeare, mas ele afeta cada um de maneira diferente. Para Clarissa a frase é reconfortante, uma maneira de se conectar com o mundo, o que a torna uma sobrevivente. Para Septimus, esse conectar com o mundo é algo ruim, traz horror ansiedade e loucura e assim, para o ponto de vista social, ele falha como sobrevivente. Mas para ele, por tudo que ele sentia e pensava, é um vencedor, ele conseguiu se livrar da natureza humana.
“Uma vez que você cai, Septimus repetia para si mesmo, a natureza humana está em você.”
Suicídio - alma x coração

Para Clarissa há uma diferença entre coração e corpo, para Septimus essa diferença não existe. A sobrevivência de Clarissa é apenas corporal, se dá a partir de suas festas, da interação social, mas ela cometeu suicídio em termos de sentimentos, ela não se deixa sentir nada por ninguém, nem mesmo por seu marido ou por Peter.
“Ela podia ver o que faltava. Não era beleza; não era inteligência. Era algo central que permeava.”
Segundo Peter Walsh, “Essa frieza, essa rigidez, algo muito profundo nela, uma impenetrabilidade...” é o que impede Clarissa de sentir e podemos dizer que é seu suicídio em relação ao coração. Como para Septimus não existe essa opção (“Não mais temas, diz o coração no corpo, não mais temas.”), sendo assim ele comete suicídio tanto do coração quanto do corpo. A vida também pode ser vista na festa que Clarissa está dando, e para ela é trazida a morte, quando contam a ela que Septimus morreu.

As chamas

Ambos vêem chamas em momentos de tensão, mas para Clarissa a sensação é purificadora e para Septimus é destrutiva.
“Ele se deitava ouvindo até que de repente começava a chorar que estava caindo, caindo em chamas! Ela procuraria por chama, era tão vivido. Mas não havia nada.”
Ato de criar

Para Virginia a arte de criar é uma maneira de derrotar a loucura e enfrentar a vida, distinguir o real do irreal, “ter um senso de proporção”. Para Clarissa, esse jeito de sobreviver, de se comunicar com a realidade, se dá através de suas festas. Já Septimus escreve textos que recusa compartilhar, no seu caso, a criação não é uma maneira de se comunicar, ele esconde ou destrói seus textos, isso ilustra a sua falha em se conectar com o mundo.

Quando Septimus se envolve na criação de um chapéu com sua mulher, o qual ele quer dar de presente, ele está tentando se comunicar, é quase a sua volta realidade, mas isso é atrapalhado pela chegada do Dr. Holmes, “a natureza humana”, ele se sente encurralado, e  é isso que o faz cometer suicídio, o sentimento de se sentir preso “apesar da vida ter sido boa”. E podemos dizer que Septimus é o melhor registro de como a doença de Virginia era.

Clarissa vê o suicídio de Septimus como uma tentativa de se comunicar.
“A morte foi uma provocação. A morte foi uma tentativa de se comunicar, pessoas sentindo a impossibilidade de atingir o centro que escapou deles; a proximidade se foi; o encanto desapareceu; ele estava sozinho. Houve um abraço na morte.”
Isolamento

Septimus rejeita se relacionar com grupos, ele sente medo, a comunicação é temida, pois é um modo de se expor. Com isso ele vai perdendo cada vez mais sua identidade e se fecha totalmente para tentar se preservar.

Apesar de não ter grandes laços afetivos com ninguém, Clarissa busca a interação social, ela precisa disso. É sua maneira de compensar o desligamento emocional.

2 comentários:

  1. Gostei das observações a respeito da ligação dos personagens. É interessante como esse processo segue durante toda a obra. Septimus possui o conhecimento que Clarissa,esposa e dona de casa, não pode se aprofundar.A meu ver, "o calor do sol" remete a vida, a existência,ao próprio conhecimento de condição como ser.Ele havia se livrado da natureza humana, pois não fazia mais parte da convenção social ditada (uma critica feminista ao meu ver).Era como se ele fosse o grito feminista inexistente tanto em Clarissa quanto nas mulheres da época. O suicídio se dá como sinal de protesto e de libertação do corpo( a imagem da mulher)e do coração( o sentimento que aprisiona). São personagens que se completam pela diferença. A arte de Virginia não poderia ser mais completa.

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  2. É um bom ponto de vista, o feminismo sempre se mostra presente na obra de Virginia. Podia ter me aprofundado mais nisso.

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